No ano em que ex-guerrilheiro comemoraria centenário, documentário revela vida íntima do ícone da esquerda e traz rap inédito de Mano Brown.
ouça o Rap de Mano Brown para o filme "Marighella"
Em uma hora e 40 minutos, "Marighella", de Isa Grinspum Ferraz, retrata a trajetória do ícone da esquerda brasileira que foi assassinado pela repressão da ditadura civil-militar em 1969, na Alameda Casa Branca, em São Paulo.
Leia a entrevista que Mano Brown deu à Folha de S. Paulo
Por que aceitou participar de "Marighella"?
Só conhecia a lenda. Alguém me falou que em algum detalhe ele parecia comigo. Na luta dele, na ideia. Somos os dois filhos de preto com italiano, e minha família também vem da Bahia.Quais os paralelos?
Marighella lembra Malcolm X, Public Enemy, Racionais. Muito do que cantamos no rap provavelmente veio dele. Por exemplo, a violência contra a violência. Ele foi proibido de correr pelo certo. Resolveu usar a força, pois só isso resolveria. Tentei traduzir a ideia dele pra rapaziada.
Como enxerga a luta de hoje?
Hoje temos um governo de esquerda. Se Marighella estivesse vivo, provavelmente estaria apoiando Dilma e Lula. Mas a luta continua, as forças contrárias estão atuando.
Quais, por exemplo?
O governo [Geraldo] Alckmin (PSDB) é inimigo, é um governo racista de repressão. A morte de pretos aumentou pra caramba sob sua gestão. A polícia na rua botando pressão onde não tem motivo. Só neste ano já fui enquadrado umas dez vezes.
E o prefeito Kassab (PSD)?
Desde que assumiu, o número de shows do Racionais diminuiu muito. É gestão racista do caralho, tudo que faz é contra a cultura negra.
Como enxerga a classe C?
Tem um monte de gente comprando e consumindo. Mas o principal está faltando: educação e instrução. Faltam bons motivos pra estudar. Única coisa que dá pra estudar é computador. O ensino está defasado e quem aprende outras coisas é excluído.
Que acha dos novos nomes como Criolo e Emicida?
Eles são muito bons, mas o que não entendo é que tem três mil nomes pra falar e a mídia só fala em três. Ninguém dá espaço para gente que está aí faz tempo, como o Dexter ou Realidade Cruel. Acho que há um preconceito muito grande com o rap militante. Tem que conciliar esta geração com o rap combativo.
Algum recado para seus fãs?
Não perder a resistência e se fechar na ideia de saber o que quer. Tomar cuidado com as informações rápidas e erradas. A falsa impressão é de que hoje não existe coisa para conquistar
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